quinta-feira, 30 de julho de 2020

LAVE O FUNDO DO PRATO

Lave o fundo do prato
Por Fabrício Lopes*


Início de 2020, o Brasil, até então, assistia às crises sanitárias recentes apenas pelas lentes e telas. Agora, se vê diante de um dos maiores desafios de sua história. Não apenas pelo número de vítimas, que nos faz refletir quão trágico é o momento que passamos, mas também como somos dependentes uns dos outros.

E isso me fez refletir sobre hábitos e pensamentos que tive ao longo da vida. Muitas vezes, quando dividi essas ideias com outras pessoas, fui ironizado ou tachado como chato. Que fique claro: algumas questões que vou trazer são apenas coisas que me faziam e fazem refletir diariamente, mas não fizeram que eu deixasse de viver e conviver como uma pessoa normal... Até o início desse ano.

Sempre consumi em bares e restaurantes, e frequentemente, uma cena sempre me chamava a atenção, era a pessoa levantar o prato e pega o que está embaixo. Ela não está errada. A esperança é que aquele esteja mais limpo ou menos exposto. Mas, na sequência, ela vai consumir diversos produtos que também estão expostos, pegar em utensílios expostos, utilizar talheres expostos e por ai vai.

Algumas pessoas dizem que se pensarem em tudo isso, saem correndo e não comem. Já eu sempre tentei pensar nessas questões como uma rede de confiabilidade, que se inicia ao acreditar que o fundo do prato suspenso, esteja limpo. Em seguida, confiar que todas as pessoas lavaram bem as mãos antes de utilizar os utensílios, e quem passou antes de nós não conversou exageradamente sobre os alimentos.

O exemplo do prato e no restaurante é apenas uma metáfora que trago para ilustrar como nossas atitudes podem impactar na vida de outras pessoas e o quanto dependemos da responsabilidade de outras pessoas para garantir o nosso bem bem estar.

O mundo está cada vez mais conectado, não apenas pela internet, mas também pelas estradas, portos e aeroportos, isso nos faz pensar o quanto confiamos e somos confiáveis. Será que estamos passando adiante o nosso melhor?

O Brasil se vê neste momento no topo de uma lista inglória, triste e que corta nossos corações. As imagens das telas e lentes agora são a nossa vizinhança. Enquanto isso, mandatários perdidos em meio a crendices e boatarias e empresários gananciosos, questionam cientistas que correm contra o tempo para tentar a achar um medicamento ou vacina para conter o vírus.

O que mundo talvez mais necessite agora é de um grande pacto de confiança. Onde possamos respeitar uns aos outros em todos os sentidos. Desenvolver hábitos mais humanos e solidários e compreender que somos pequenos diante da imensidão do universo. Talvez o grande ensinamento que possamos tirar desse momento, é de que devemos ter mais harmonia entre as pessoas e observar se estamos passando adiante aquilo que esperamos receber.

É momento de cuidar de nós e das pessoas. Entender o quão importante somos uns aos outros. Mesmo que o momento seja delicado e difícil, é importante começar. Viver em sem ganância e individualismos podem ser dois passos importantes para que possamos confiar e transmitir confiança.

E não esqueça: lave o fundo do prato.



*Fabrício Lopes é Gestor Público

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A CONTA



Agressão
Ganância
Traição
Matança
Desrespeito
Xingamentos
Sujeira
Intolerância
Queimadas
Destruição
Poluição
Desperdício
Ódio
Exploração
Vingança

Se você não se mexe
Se você não se espanta
Vai pagar a conta!

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

OUTROS CAMINHOS


O trem veloz
Em disparada
Rompeu o silêncio
Da madrugada
Cortou a neblina
Mudou a rotina
Na comunidade
O povo assistiu
A composição
Transpor a estação
Seguir seu caminho
Onde antes era parada
Agora se faz tristeza
O vagão some ao longe
Sem dar satisfação
Olhares atônitos se perdem
Em busca de explicação
O frio se impõe
Todos calados
De pé postados
Sem querer acreditar
Que aquele local
Já foi importante parada
Das partidas e chegadas
De renovar as esperanças
Ficou perdido nas lembranças
Agora é parte do caminho
O ponto de encontro
Só une a solidão
Observam com apreensão
Os trilhos que cortam o chão
Que um dia foi conexão
Isolados
Com ar de perigo
Se faz preciso coragem
Para unir desafetos e amigos
Em busca de um novo caminho
Quem sabe uma nova parada
Sem estremecer
A fé nessa longa jornada

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

GOTAS



Gotas do céu
Molham o chão
A pele
Sem destino certo
Em desatino
Se une
Encharca
Escorre pelas ruas
Inunda sentimentos
Deixa suas marcas
Gravadas
Nos olhos
Cheio de lágrimas
Gotas salgadas

MAIS UM DIA

Novo ângulo 
Velho conhecido 
Na cidade que conduz
Por vezes somos conduzidos
Para o trabalho ou lazer
Leva estudante e operário
Na busca de sonhos 
Olhares sérios 
Bebês risonhos 
Pela janela o tempo passa
Tristeza se cruza com alegria
Sentimento confuso
Começo ou fim?
Somente uma certeza!
Mais um dia, mais um dia


Fabrício Lopes

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

NINGUÉM SE IMPORTA


Quando a folha cai
Uma porta se fecha
Indubitável tempo
De memória passadas
Não tem alvoroço
Reflexos do destino
Perdido na estrada

Com pouca força 
Rasteja
Sem horizontes
Dor da alma
Abatido, não reage 
Agora é traço 
Saiu da rota

Fim da angústia
Amargo na boca
Silhueta torta
Na dúvida 
Muitos bradam
Todos falam
Mas na verdade?!

Ninguém se importa


Fabrício Lopes

sábado, 29 de junho de 2019

UMA MANCHA ROXA NA HISTÓRIA AURI-RUBRA

Uma mancha roxa na história auri-rubra
Por Fabrício Lopes*
Quem me conhece sabe, tento tratar sempre minhas angústias e alegrias longe das redes sociais, entendo que este é um lugar para me manter conectado a pessoas maravilhosas que ao longo do tempo tivemos a oportunidade de conviver e repartir experiências.

Mas desde ontem estou inquieto, por várias vezes escrevi e apaguei frases que traduzem o que tenho sentido nas últimas horas. Algumas mais ácidas, outras mais românticas, porém todas sobre o mesmo assunto: Jabaquara Atlético Clube.

Refleti muito se deveria tornar pública algumas considerações que tenho. Afinal, no que isso vai influenciar? Talvez em nada! Mas ao menos deixo aqui registrado para meus amigos e para minha história um assunto que se tornou público da pior maneira possível. Nesse sentido também entendo que é necessário trazer alguns pensamentos à público.

Ontem recebi uma enxurrada de ligações e mensagens de amigos para compartilhar o momento triste que o glorioso Leão da Caneleira vive. Prestes a completar 105 anos, sofre, ao meu ver, a maior mancha de sua história esportiva: foi suspenso pela Federação Paulista de Futebol.

A mesma federação que o Jabuca e outros 10 clubes fundaram e hoje ouvimos os atuais dirigentes tratarem com desdém. E pensar que um dia pessoas que sequer conseguem ler um regulamento aprovaram leis.

O Jabaquara não é apenas o meu time, é meu clube. Seja qual for a categoria ou a divisão, dentro das minhas limitações sempre busquei apoiar e torcer. Nunca fui torcedor de radinho e internet, sou esportista e sempre procurei estar presente independente das distâncias.

Sei das nossas limitações, nunca deixei de frisar aos nossos adversários meu total respeito e consideração, afinal, dependemos uns dos outros e as divergências se encerram com o apito final das competições.

Ao ser suspenso e ter sua última partida em 2019 decretado WO, o clube termina o ano sem nenhuma vitória no futebol profissional e um desfecho trágico para um clube da nossa envergadura. Não posso deixar de ressaltar que muitos dos nossos atletas, mesmo diante de adversidades, foram aguerridos. Sei o quanto se empenharam para buscar resultados, mas muitas vezes a mão invisível desmontou nosso esquema tático e colocou a equipe no buraco. As súmulas não me deixam mentir.

Foi angustiante ler, ouvir e ver todas as notícias e mensagens que me saltaram aos olhos no dia de ontem. Ver o quanto isso arranha a nossa imagem e como fragiliza a nossa instituição. Sempre busquei oferecer o melhor de mim para o clube, sem nunca obter qualquer ganho pessoal, pensando sempre em manter.

Manter as manhãs alegres de domingo, onde o resultado é inferior a alegria de estar com os amigos. Manter viva uma instituição centenária e sua história. Manter acesa a chama do verdadeiro futebol, aquele que incendeia corações de milhares de jovens em busca de seu lugar ao sol.

Antes que algum paladino desavisado ouse dizer que nada faço pela agremiação, ressalto que enquanto pude e não fui tolhido, mantive viva a comunicação do clube, deixando torcedores e associados informados sobre os acontecimentos bons ou ruins, mas sempre com compromisso e respeito aos veículos de imprensa.

Mesmo quando deixou de ser minha atribuição, nunca deixei de contribuir com a cobertura de jogos e atividades em que estive presente. Hoje esse comportamento é inverso. As informações são escassas e nosso maior destaque em 2019 nos meios de comunicação é devido a um ato de total irresponsabilidade de nossos dirigentes.

Aproveito o momento para agradecer aos que realizam a cobertura esportiva do clube, sei de todas as dificuldades enfrentadas pelos profissionais para receber informações, porém nunca se furtaram de buscar a notícia e fazer chegar até nós. Hoje se dependesse de algumas pessoas, nesse momento estaríamos sem saber os reais motivos que nos levaram a chegar nesse final trágico da temporada "profissional" de 2019.

Por fim, antecipo minhas desculpas aos que de alguma maneira se sintam ofendidos com estas breves palavras. Tenham a certeza que escrevo este texto com profunda tristeza e sem intenção alguma de individualizar qualquer crítica. Ela é fruto de uma sequência de erros egocêntricos de diversas pessoas, as quais não controlam sequer sua própria vaidade e não sabem trabalhar em equipe.

Todos nós estamos aqui de passagem. Espero, enquanto aqui eu estiver, que não me faltem condições para defender o legado no nosso clube. Como disse Plínio Marcos, em quem me inspirei para o título do texto: "Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre."

Não vamos desistir! Abaixo aproveitadores! Vida longa ao Jabaquara Atlético Clube!



*Fabrício Lopes é Gestor Público.