sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

GOTAS



Gotas do céu
Molham o chão
A pele
Sem destino certo
Em desatino
Se une
Encharca
Escorre pelas ruas
Inunda sentimentos
Deixa suas marcas
Gravadas
Nos olhos
Cheio de lágrimas
Gotas salgadas

MAIS UM DIA

Novo ângulo 
Velho conhecido 
Na cidade que conduz
Por vezes somos conduzidos
Para o trabalho ou lazer
Leva estudante e operário
Na busca de sonhos 
Olhares sérios 
Bebês risonhos 
Pela janela o tempo passa
Tristeza se cruza com alegria
Sentimento confuso
Começo ou fim?
Somente uma certeza!
Mais um dia, mais um dia


Fabrício Lopes

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

NINGUÉM SE IMPORTA


Quando a folha cai
Uma porta se fecha
Indubitável tempo
De memória passadas
Não tem alvoroço
Reflexos do destino
Perdido na estrada

Com pouca força 
Rasteja
Sem horizontes
Dor da alma
Abatido, não reage 
Agora é traço 
Saiu da rota

Fim da angústia
Amargo na boca
Silhueta torta
Na dúvida 
Muitos bradam
Todos falam
Mas na verdade?!

Ninguém se importa


Fabrício Lopes

sábado, 29 de junho de 2019

UMA MANCHA ROXA NA HISTÓRIA AURI-RUBRA

Uma mancha roxa na história auri-rubra
Por Fabrício Lopes*
Quem me conhece sabe, tento tratar sempre minhas angústias e alegrias longe das redes sociais, entendo que este é um lugar para me manter conectado a pessoas maravilhosas que ao longo do tempo tivemos a oportunidade de conviver e repartir experiências.

Mas desde ontem estou inquieto, por várias vezes escrevi e apaguei frases que traduzem o que tenho sentido nas últimas horas. Algumas mais ácidas, outras mais românticas, porém todas sobre o mesmo assunto: Jabaquara Atlético Clube.

Refleti muito se deveria tornar pública algumas considerações que tenho. Afinal, no que isso vai influenciar? Talvez em nada! Mas ao menos deixo aqui registrado para meus amigos e para minha história um assunto que se tornou público da pior maneira possível. Nesse sentido também entendo que é necessário trazer alguns pensamentos à público.

Ontem recebi uma enxurrada de ligações e mensagens de amigos para compartilhar o momento triste que o glorioso Leão da Caneleira vive. Prestes a completar 105 anos, sofre, ao meu ver, a maior mancha de sua história esportiva: foi suspenso pela Federação Paulista de Futebol.

A mesma federação que o Jabuca e outros 10 clubes fundaram e hoje ouvimos os atuais dirigentes tratarem com desdém. E pensar que um dia pessoas que sequer conseguem ler um regulamento aprovaram leis.

O Jabaquara não é apenas o meu time, é meu clube. Seja qual for a categoria ou a divisão, dentro das minhas limitações sempre busquei apoiar e torcer. Nunca fui torcedor de radinho e internet, sou esportista e sempre procurei estar presente independente das distâncias.

Sei das nossas limitações, nunca deixei de frisar aos nossos adversários meu total respeito e consideração, afinal, dependemos uns dos outros e as divergências se encerram com o apito final das competições.

Ao ser suspenso e ter sua última partida em 2019 decretado WO, o clube termina o ano sem nenhuma vitória no futebol profissional e um desfecho trágico para um clube da nossa envergadura. Não posso deixar de ressaltar que muitos dos nossos atletas, mesmo diante de adversidades, foram aguerridos. Sei o quanto se empenharam para buscar resultados, mas muitas vezes a mão invisível desmontou nosso esquema tático e colocou a equipe no buraco. As súmulas não me deixam mentir.

Foi angustiante ler, ouvir e ver todas as notícias e mensagens que me saltaram aos olhos no dia de ontem. Ver o quanto isso arranha a nossa imagem e como fragiliza a nossa instituição. Sempre busquei oferecer o melhor de mim para o clube, sem nunca obter qualquer ganho pessoal, pensando sempre em manter.

Manter as manhãs alegres de domingo, onde o resultado é inferior a alegria de estar com os amigos. Manter viva uma instituição centenária e sua história. Manter acesa a chama do verdadeiro futebol, aquele que incendeia corações de milhares de jovens em busca de seu lugar ao sol.

Antes que algum paladino desavisado ouse dizer que nada faço pela agremiação, ressalto que enquanto pude e não fui tolhido, mantive viva a comunicação do clube, deixando torcedores e associados informados sobre os acontecimentos bons ou ruins, mas sempre com compromisso e respeito aos veículos de imprensa.

Mesmo quando deixou de ser minha atribuição, nunca deixei de contribuir com a cobertura de jogos e atividades em que estive presente. Hoje esse comportamento é inverso. As informações são escassas e nosso maior destaque em 2019 nos meios de comunicação é devido a um ato de total irresponsabilidade de nossos dirigentes.

Aproveito o momento para agradecer aos que realizam a cobertura esportiva do clube, sei de todas as dificuldades enfrentadas pelos profissionais para receber informações, porém nunca se furtaram de buscar a notícia e fazer chegar até nós. Hoje se dependesse de algumas pessoas, nesse momento estaríamos sem saber os reais motivos que nos levaram a chegar nesse final trágico da temporada "profissional" de 2019.

Por fim, antecipo minhas desculpas aos que de alguma maneira se sintam ofendidos com estas breves palavras. Tenham a certeza que escrevo este texto com profunda tristeza e sem intenção alguma de individualizar qualquer crítica. Ela é fruto de uma sequência de erros egocêntricos de diversas pessoas, as quais não controlam sequer sua própria vaidade e não sabem trabalhar em equipe.

Todos nós estamos aqui de passagem. Espero, enquanto aqui eu estiver, que não me faltem condições para defender o legado no nosso clube. Como disse Plínio Marcos, em quem me inspirei para o título do texto: "Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre."

Não vamos desistir! Abaixo aproveitadores! Vida longa ao Jabaquara Atlético Clube!



*Fabrício Lopes é Gestor Público.

domingo, 28 de abril de 2019

NÃO PARE DE CAMINHAR

Não pare de caminhar
Por Fabrício Lopes*
Quando ainda mais jovem, ouvia muito que um dia chegaria a nossa vez da nossa geração assumir os postos de comando e levar adiante várias questões em nosso país. Sempre faziam questão de frisar a necessidade de ser firme para enfrentar as injustiças, conquistar espaços, expurgar aproveitadores e assim se manter na linha de frente em qualquer uma das áreas pretendidas.

Algumas vezes isso me soava como uma cobrança, mas em algumas ocasiões senti como se fosse um chamado. Eis que fui amadurecendo, as oportunidades surgiram, nosso nome surgiu nas discussões e os primeiros embates ocorreram.

Talvez fosse apenas fatos isolados, mas o que se avizinhava era mais que isso, foi uma mudança de curso. Alguns que só estimulam da boca pra fora, agora se sentem acuados diante das novas gerações.

Muitas pessoas que diziam que era tempo de protagonizar e assumir a dianteira passou a dizer que eu era muito jovem e inexperiente. Mas como ser experiente sem ter a oportunidade de vivenciar os espaços outrora negados?

O tempo passou, outras figuras surgiram, e na maioria das vezes o discurso sempre se assemelhou. Aprendi com isso que cada vez que uma porta se fecha na nossa cara sem justificativa plausível é o sinal de que há um espaço arcaico a ser conquistado e transformado. É uma tarefa diária construir cada passo nessa caminhada, por conta disso sou muito grato aos que não ficaram apenas de conversa mole e deram as oportunidades e os puxões de orelha que me trouxeram até aqui.

Muitos anos se passaram desde que tudo isso começou. Cada espaço que foi conquistado com muito esforço e o desenvolvimento de cada tarefa realizada com muito afinco e determinação.Vários erros que ocorreram se transformaram em aprendizados, muitas vitórias foram conquistadas e divididas com muitas pessoas fantásticas, mas o que me faz estar aqui é o caminho que ainda há por vir.

Hoje, depois de acertos e tropeços, a caminhada segue firme. Quando o argumento é de que ainda sou muito novo para assumir certos desafios, não me incomodo. Apenas fico lisonjeado de saber que aos olhos de alguns ainda tenho um rosto de vinte e poucos anos, isso rejuvenesce a alma.

Sei que ainda sou pequeno diante dos grandes desafios do mundo, porém nunca deixei de acreditar que tudo o que está ao meu alcance pode ser um instrumento para influir e melhorar a nossa passagem aqui. Nunca tive a intenção de parecer algo que não sou ou ocupar algo que não me caiba, tento apenas aprender e dividir aprendizados com todas e todos.

Isso me mostrou que todos os dias podemos fazer algo de bom por alguém. Independente da posição ocupada ou da idade é preciso estimular as pessoas a chegarem ao topo do momento que elas vivem. Criar barreiras é para os fracos.

Quando alguém te ajudar, seja grato. Quando alguém te atrapalhar, seja melhor! Lembre-se: não pare de caminhar.

*Fabrício Lopes é Gestor Público

segunda-feira, 25 de março de 2019

O ÚLTIMO QUESITO

O último quesito
O anúncio das notas das escolas de samba é algo que chama a atenção de quem acompanha. Mesmo quem não é adepto da festa popular costuma parar alguns instantes para observar a leitura e as reações. Entre comemorações pelas notas altas e frustrações com notas baixas, podemos observar algumas conquistas individuais e muitos desastres coletivos.

Enquanto há segmentos comemoram a gabaritagem da nota máxima, outros tentam entender o que faltou aos olhos dos julgadores, mas é importante compreender que independente da forma como são anunciadas, sempre há uma pressão infinitamente maior sobre o último quesito.

Atualmente a ordem de anúncio e desempate são realizadas por sorteio, mas por muitos anos a leitura tinha uma sequência fixa e a bateria geralmente é quem ficava para o final. Com isso, o segmento que mais tem o risco de falhar por ser o que atua por mais tempo, para no recuo para ser avaliado individualmente, tem o maior número de componentes e geralmente é o mais desgastante fisicamente, era o último a ter a nota anunciada.

Nenhum peso é maior que perder o carnaval na última nota, ainda mais sendo o anúncio da avaliação do "coração da escola". Em um único anúncio você passa a ter a responsabilidade dobrada por um resultado que vai além do próprio desempenho no desfile.

Se a pontuação virar no último instante, será como o gol da vitória nos minutos finais de uma prorrogação. Todos esquecem as notas baixas e correm para o abraço. Porém se se a derrota vier justamente nesse momento, o peso da cobrança será praticamente eterno.

O assunto aparentemente é sobre o carnaval, mas não é. Trago o presente exemplo para que possamos avaliar a infinidade de coisas cujo o resultado é uma somatória de questões, porém é costumeiro da maioria das pessoas avaliar apenas uma fração das ocorrências que levam à um determinado resultado.

Isso serve para vários temas debatidos no Brasil onde a população que é o "coração do país" acaba por carregar um peso dobrado diante de temas estratégicos. Diariamente pautas são colocadas na agenda do país, geram expectativas, são tratados como relevantes, mas que no fundo são quesitos cuja as notas servem para comemorações individuais, mas que ao final o peso da responsabilidade ficará sobre o povo, e mesmo que este tenha feito tudo de forma correta, por comodismo de muitos, vai pagar um preço que não dependeu do seu desempenho.

As pautas relevantes são fatiadas ao gosto dos poderosos e colocados como essenciais para "salvar o país", por outro lado, falta ao grande público a compreensão de que independente da ordem das medidas anunciadas o resultado final já foi consolidado antes dos os envelopes serem fechados.

Por mais que seja difícil compreender, sempre haverá um clima de expectativa no ar. Talvez o maior impulso seja a ansiedade aliada com a curiosidade que cria uma atmosfera de busca pela alegria, mas que pode desaguar em uma grande desilusão a qual pode ser resolvida com a somatória simples somatória dos resultados e com o anúncio apenas da classificação final.

No caso do carnaval, essa tradição do anúncio ajuda a movimentar as quadras, aguçar o imaginário e alimentar as esperanças. Já na vida real, quanto mais nos distraímos com os anúncios fragmentados sobre os rumos do país, mais longe estamos de compreender o resultado final ao qual estamos sujeitos.

É necessário estar atento e quanto mais tempo se perde tentando procurar um culpado para os fragmentos cotidianos, um conjunto de fatores que nos trouxe até aqui é deixado de lado.

Devemos ter um olhar mais holístico para questões que nos afligem todos os dias e com um sentimento de construção coletiva dos temas. Acredito que esse é o caminho para que nosso país possa se desenvolver e nosso povo não continue a pagar uma conta construída pela exploração histórica e que é diariamente paga por quem mais trabalha. É preciso compreender e unir esforços para eliminar essa pressão nos ombros da classe trabalhadora toda vez que um novo envelope é aberto e uma nova nota for anunciada.



*Fabrício Lopes é Gestor Público e pós graduando em Gestão Ambiental