Para onde vamos?
Por: Fabrício Lopes*
Há um fato que me incomoda a cada dia mais e mais. Será que, na seara da administração pública, criar um órgão voltado a juventude e colocar uma pessoa apenas bem intencionada para gerir é suficiente para dirimir os problemas que a juventude enfrenta no escopo da sociedade?
A forma como os gestores públicos tratam este importante tema, a meu ver, está aquém da real necessidade de atendimento das demandas do jovem. Isso fica explícito no horário eleitoral gratuito, onde todo candidato manifesta preocupação com a juventude. Nesta hora, brota uma profusão de soluções mágicas para as áreas diversas, como educação, saúde, emprego etc. Até em lazer pensam.
Promessas que ficam intangíveis quando se trata de conteúdo programático, melhor explicando, a grande maioria dos partidos políticos não tem um projeto, digamos, para usar o termo da moda, sustentável para a imensa massa de jovens que compõe a maioria da população brasileira.
Em outras palavras, políticos são cheios de boas intenções, mas não sabem como lidar na prática para dirimir os problemas. Na verdade, não há interlocução, a maioria deles nem tem ao menos a noção de que algumas suas idéias são reflexo da vontade da juventude. No Brasil, há dois anos, foi realizada uma conferência em âmbito nacional, envolvendo gente de todo o país e na qual foi tirada 70 resoluções e fixadas 22 prioridades. Pergunte quantos homens públicos têm consciência do fato.
Mais preocupante ainda é que em 2008 algumas administrações municipais fizeram uma declaração de apoio ao Pacto da Juventude. Alguns dos compromissos firmados à época começam agora a sair do papel, o que nos alegra, pois é do que precisamos. Queremos mais espaço para fazer política e aprofundarmos debates anteriormente disseminados na máquina pública.
Torna-se preocupante, no entanto, que tais órgãos voltados a juventude vão sendo montados sem critério e embasamento por parte daqueles que estão assumindo o papel de gestor. Alguns governos estabelecem uma a pasta da Juventude apenas para explicitar um “compromisso” que não tem o sentido real da coisa. É preocupante que haja uma leva grande de espaços que vão sendo ocupadas por pessoas com muita vontade mas pouca experiência política e conhecimento da causa.
Neste caso, a boa intenção se perde na inexperiência de quem está colocado a fomentar o trabalho. Acaba ficando à mercê de decisões alheias. Para dar certo é preciso alguém que entenda do tema. Não necessita exatamente que seja pessoa dentro da faixa dita de juventude a ocupar o posto. Quem já passou esta fase, mas tem militância, bom trânsito e know-how, tem muito mais condições de prestar um bom serviço neste segmento, que é bastante delicado.
E que não caiba aí nenhum tipo de preconceito arraigado de idade ou outro qualquer, pois nada supera o conhecimento adquirido. Meu receio é que o “fazer por fazer”, ações retóricas apenas, nos faça retroceder nos avanços até aqui conquistados. Ao invés de servir só para conferir status a algum agente político, deveria mesmo servir para pensar as soluções para os grandes temas que afligem à juventude. O debate não termina aqui.
*Fabricio Lopes é membro
do Conselho Nacional de Juventude