Juventude quer respeito!
Por Fabrício Lopes*
Às vezes me questiono sobre o que me faz insistir em um
assunto, mesmo quando posso prever que aqueles que deveriam estar realmente
preocupados mais uma vez fazem "ouvidos de mercador". Mas a uma
conclusão eu já cheguei, ao menos: minha esperança é mais forte que minha
gastrite.
Mesmo diante dos desgastes que já sofri por levar adiante
ideais modernos e das pérolas que ouço quando venho a tocar no assunto, assumi
que é necessário ter muita paciência com aqueles que se travestem de incautos.
Estes anos de militância nas Politicas Públicas de Juventude me ajudaram a
entender o quanto uma grande parcela dos gestores público ainda são
despreparados e pouco esforçados.
Quando participei, em 4 de setembro de 2009, da assinatura
do Pacto pela Juventude pela Prefeitura de Cubatão, na ocasião, representando o
Conselheiro Nacional de Juventude, acreditei como jovem cubatense, que uma nova
fase se iniciaria e enfim chegava o momento de romper com os anos de atraso na
participação dos jovens no desenvolvimentos da cidade.
Não é fácil ser jovem criado nesta terra. A mentalidade
imposta à nós, jovens, é de que apenas devemos nos formar para atender as
demandas do pólo industrial, nada mais. Isso sempre me incomodou, pois é um
pensamento arcaico, tendo em vista que há centenas de outros ramos de atividade
que podem ser potencializados e novos mercados podem ser criados, inclusive
para abastecer as demandas das indústrias, sem necessariamente ser subjugado a
elas.
Somente com autonomia de trabalho, investimento verdadeiro e
participação popular será possível dar uma nova condição de vida aos jovens e
suas famílias, criando, a partir daí, novas perspectivas para a cidade, que
vive hoje uma atmosfera de paralisia no tempo.
Já se passaram mais quatro anos, depois de tantos outros de
descaso. As recentes mobilizações populares mostraram o descontentamento geral
e o clamor por soluções para temas levantados há décadas, pelo abandono de
políticas estruturantes. Diante dos desafios apresentados, me sinto no dever,
como cidadão, de refletir alguns pontos, ainda que de forma pouco aprofundada.
Mas que não posso me furtar diante da minha trajetória política e compromisso
com minha cidade.
Todo tempo é tempo de reiniciarmos, sem medo, e uma hora
vamos acertar. Para alguns, pouco valem minhas considerações. Porém, fazê-las é
uma forma de registrar, por mais dolorosas que sejam, as análises de um tempo
que a cidade perdeu por não investir em seus filhos, que relega toda uma
geração que nasceu nos momentos mais difíceis que já passamos.
Nesse período que a cidade se manteve praticamente
cristalizada, muita coisa aconteceu: o jovem passou a fazer parte da
Constituição, a 2ª Conferencia Nacional de Juventude se realizou, o Estatuto da
Juventude foi aprovado. E o máximo que nossa cidade conseguiu foi dar institucionalidade ao tema, com a criação em setembro de 2010 de uma
Coordenadoria que foi extinta em dezembro de 2012 e retornou agora como
Diretoria. Foi a única parte que brotou, ainda que de forma murcha. Nos encheu
de esperança no inicio, e agora nos deixa tristes ao presenciar o desdém que há
com o órgão. Sem poder algum, seus ocupantes permanecem poucos meses no cargo,
diga-se, já estamos no terceiro.
Nos dias atuais, o governante que não se dedica a
compreender as opiniões da população e não garante os espaços de participação e
controle social que funcione efetivamente, está fadado ao fracasso. No nosso
caso, até fracassar está difícil, já que o Conselho de Juventude aprovado em 17
de agosto de 2011, sequer foi regulamentado.
Será que basta apenas culpar alguém por essa falta de
planejamento estratégico e ausência de compromisso com a implementação de
Politicas Públicas de Juventude? Ou estamos diante de um entrave politico maior
que pressupõe um projeto onde interesses pessoais e o pragmatismo eleitoreiro
esmaga as opiniões divergentes?
É mais que urgente mudar essa mentalidade do século XIX que
os nossos gestores vem utilizando. Somos capazes de romper com esse estigma de
que o jovem nada mais é de que uma ferramenta para servir ao capital. A
juventude tem o direito de se construir em novos espaços, criar novas
perspectivas, ter acesso à educação de qualidade, acessar o trabalho decente,
firmar raízes e constituir família na sua cidade. O que falta é oportunidade e
confiança por parte dos agentes públicos.
No momento em que nos furtamos desse debate, jogamos fora
toda a genialidade de centenas de jovens cubatenses, que se veem obrigados a
deixar sua terra querida em busca de um espaço para, ao menos, serem ouvidos.
São atletas, artistas, educadores, músicos, acadêmicos,
entre outros, que em busca da sua sobrevivência cotidiana e de espaço para
serem ouvidos, abriram mão do sonho de construir coletivamente uma cidade
fraterna, acolhedora e que devolva a seus filhos o que eles merecem: respeito.
Não possuo o objetivo de ser conclusivo em minhas breves
palavras, quero somente trazer a tona alguns pontos para que possamos iniciar
um debate franco e sincero que a cidade não aguenta mais esperar. É hora de
iniciar uma profunda reflexão, tanto do
ponto de vista governamental quanto do ponto de vista da organização social.
Ser inflexível não vai solucionar nossos problemas.
Fatos recentes nos chocam e mostram que o desafio é bem
maior de que as bandeiras partidárias. Precisamos ousar nas nossas ações e
construir caminhos que comportem a diversidade de ideias e compreenda as
angustias de toda uma geração, que vive uma ansiedade de décadas para que suas
demandas sejam reconhecidas. Já passou a hora um despertar coletivo.
*Fabricio Lopes, cubatense e militante do Partido Socialista
Brasileiro