Hoje é dia de Barbosa!
Por Fabrício Lopes*
Há um velha mania em muitos brasileiros de sempre tentar
extravasar suas frustrações e preconceitos através do esporte, especialmente o
futebol. Sempre há quem fique procurando ou criando defeitos nos adversários ao
invés de conviver com suas próprias qualidades, além de que, parece ser
impossível guardar para si as opiniões preconceituosas que só visam diminuir as
conquistas dos demais.
Esse é o grave defeito de quem é frustrado: não sabe
conviver com as derrotas.
Sou amante do esporte por excelência, respeito os
adversários, mas tenho lado. Sou Jabaquarense com muito orgulho! E por mais que
o clube não possua os “cobiçados” títulos, não é isso que me motiva e me faz
feliz.
Fico extasiado apenas pelo fato de, ano após ano, mesmo
diante de tantas dificuldades, ver o Leão da Caneleira desfilar sua simpatia
nos gramados, independente do resultado. Pois o importante é saber que há o
esforço de muita gente para que isso se concretize ao longo desses 100 anos.
Isso sim é cabeça de vencedor.
Porém neste momento quero lembrar um fato que é resgatado
cotidianamente nos últimos 64 anos, em todos os momentos que o assunto envolve
a Copa do Mundo: a final contra o Uruguai em 1950.
O dia 16 de julho de 1950 serve para mostrar que essa
história de memória curta que tanto se fala no Brasil é apenas um subterfúgio
para não se assumir as verdadeiras posições. Digo isto pois ao longo de todos
esses anos, até a presente data, convivi com a memória mais longa e o maior
injustiçamento da historia do futebol brasileiro contra um cidadão chamado
Moacir Barbosa do Nascimento.
Barbosa foi o arqueiro que recebeu um “tiro” a queima roupa
de Gighia em um Maracanã
lotado, onde outros 10 em campo não foram capazes de superar os adversários.
Porém a culpa, como sempre, recaiu sobre aquele que tinha naquele momento a
tarefa ingrata de pegar um chute “a queima roupa” com pouco mais de 5 metros de distância.
Em tempos de futebol empresarial, salários milionários,
imagens de alta definição, enxurrada de ídolos, piadinhas em tempo real, entre
outros paparicos, fica a prova de que no esporte o que vale é a competência e
perder é parte do jogo.
Quantas vezes ouvi o Seo Jurandir descrever a árdua tarefa
de ficar escondido no meio do mato, entre a casa de minha avó e a casa de um de
seus vizinhos, para ouvir aquele jogo de 1950, em um dos poucos rádios
existentes à época em Cubatão.
Papai é um homem de um coração sem igual, que me ensinou o
que é ser um bom torcedor. Foi o único que todas as vezes que pôde, defendeu
Barbosa, mesmo depois de sua morte em 7 de abril de 2000, pela atuação naquele
jogo e contra as injustiças que sofreu.
Que a partir de hoje, passemos a olhar um pouco mais para
outras questões coletivas que necessitam de nossa longa memória. Que o esporte
cumpra sua função e os cidadãos também. Não perdemos e nem ganhamos nada. Mas
que fique a lição de que é preciso compreender e respeitar os adversários. E
mesmo diante de todas essas palavras “marketinzadas” dos narradores
televisivos, e o que vale é quem joga melhor, esse sim é o verdadeiro futebol.
Neste 8 de julho de 2014, continuo #FechadoComBarbosa
*Fabrício Lopes é Gestor Público