Uma mancha roxa na história auri-rubra
Por Fabrício Lopes*
Quem me conhece sabe, tento tratar sempre minhas angústias e alegrias longe das redes sociais, entendo que este é um lugar para me manter conectado a pessoas maravilhosas que ao longo do tempo tivemos a oportunidade de conviver e repartir experiências. Mas desde ontem estou inquieto, por várias vezes escrevi e apaguei frases que traduzem o que tenho sentido nas últimas horas. Algumas mais ácidas, outras mais românticas, porém todas sobre o mesmo assunto: Jabaquara Atlético Clube.
Refleti muito se deveria tornar pública algumas considerações que tenho. Afinal, no que isso vai influenciar? Talvez em nada! Mas ao menos deixo aqui registrado para meus amigos e para minha história um assunto que se tornou público da pior maneira possível. Nesse sentido também entendo que é necessário trazer alguns pensamentos à público.
Ontem recebi uma enxurrada de ligações e mensagens de amigos para compartilhar o momento triste que o glorioso Leão da Caneleira vive. Prestes a completar 105 anos, sofre, ao meu ver, a maior mancha de sua história esportiva: foi suspenso pela Federação Paulista de Futebol.
A mesma federação que o Jabuca e outros 10 clubes fundaram e hoje ouvimos os atuais dirigentes tratarem com desdém. E pensar que um dia pessoas que sequer conseguem ler um regulamento aprovaram leis.
O Jabaquara não é apenas o meu time, é meu clube. Seja qual for a categoria ou a divisão, dentro das minhas limitações sempre busquei apoiar e torcer. Nunca fui torcedor de radinho e internet, sou esportista e sempre procurei estar presente independente das distâncias.
Sei das nossas limitações, nunca deixei de frisar aos nossos adversários meu total respeito e consideração, afinal, dependemos uns dos outros e as divergências se encerram com o apito final das competições.
Ao ser suspenso e ter sua última partida em 2019 decretado WO, o clube termina o ano sem nenhuma vitória no futebol profissional e um desfecho trágico para um clube da nossa envergadura. Não posso deixar de ressaltar que muitos dos nossos atletas, mesmo diante de adversidades, foram aguerridos. Sei o quanto se empenharam para buscar resultados, mas muitas vezes a mão invisível desmontou nosso esquema tático e colocou a equipe no buraco. As súmulas não me deixam mentir.
Foi angustiante ler, ouvir e ver todas as notícias e mensagens que me saltaram aos olhos no dia de ontem. Ver o quanto isso arranha a nossa imagem e como fragiliza a nossa instituição. Sempre busquei oferecer o melhor de mim para o clube, sem nunca obter qualquer ganho pessoal, pensando sempre em manter.
Manter as manhãs alegres de domingo, onde o resultado é inferior a alegria de estar com os amigos. Manter viva uma instituição centenária e sua história. Manter acesa a chama do verdadeiro futebol, aquele que incendeia corações de milhares de jovens em busca de seu lugar ao sol.
Antes que algum paladino desavisado ouse dizer que nada faço pela agremiação, ressalto que enquanto pude e não fui tolhido, mantive viva a comunicação do clube, deixando torcedores e associados informados sobre os acontecimentos bons ou ruins, mas sempre com compromisso e respeito aos veículos de imprensa.
Mesmo quando deixou de ser minha atribuição, nunca deixei de contribuir com a cobertura de jogos e atividades em que estive presente. Hoje esse comportamento é inverso. As informações são escassas e nosso maior destaque em 2019 nos meios de comunicação é devido a um ato de total irresponsabilidade de nossos dirigentes.
Aproveito o momento para agradecer aos que realizam a cobertura esportiva do clube, sei de todas as dificuldades enfrentadas pelos profissionais para receber informações, porém nunca se furtaram de buscar a notícia e fazer chegar até nós. Hoje se dependesse de algumas pessoas, nesse momento estaríamos sem saber os reais motivos que nos levaram a chegar nesse final trágico da temporada "profissional" de 2019.
Por fim, antecipo minhas desculpas aos que de alguma maneira se sintam ofendidos com estas breves palavras. Tenham a certeza que escrevo este texto com profunda tristeza e sem intenção alguma de individualizar qualquer crítica. Ela é fruto de uma sequência de erros egocêntricos de diversas pessoas, as quais não controlam sequer sua própria vaidade e não sabem trabalhar em equipe.
Todos nós estamos aqui de passagem. Espero, enquanto aqui eu estiver, que não me faltem condições para defender o legado no nosso clube. Como disse Plínio Marcos, em quem me inspirei para o título do texto: "Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre."
Não vamos desistir! Abaixo aproveitadores! Vida longa ao Jabaquara Atlético Clube!
*Fabrício Lopes é Gestor Público.