quarta-feira, 18 de junho de 2014

ARTIGO - PELO DIREITO DE SONHAR

Pelo direito de sonhar
Por Fabrício Lopes*

A vida às vezes nos impõe um caminho ao qual, se houvesse opção, preferiríamos não seguir. Isso pode tanto acontecer pelos erros que cometemos, mas também pode surgir a partir dos acertos. Muitas vezes, por mais alto que possa falar a voz do nosso coração, somos obrigados a compreender que existem desafios pessoais e profissionais que devem ser enfrentados e deles devemos tirar as melhores experiências, para quem sabe, um dia, se colocar novamente no caminho dos sonhos e das realizações.

É impossível prever os caminhos que iremos seguir, mas o fato é que sempre levamos conosco os nossos sonhos e desejos. Não sabemos ao certo se um dia teremos a oportunidade de realizá-los, é uma incógnita. Porém é necessário compreendermos que depende em muito de nós possuirmos objetivos bem definidos, perseverar relações e levar adiante os ideais que nos motivam a permanecer na luta.

Ainda muito cedo aprendi que seria preciso mais do que boa vontade para realizar alguns dos meus sonhos. Nascido em uma cidade rica, porém com condições quase nulas para seu povo. Sou filho único de uma família pequena, mas extremamente batalhadora e desprovida de grandes recursos financeiros. Diante disso, fui me acostumando a ter que buscar cotidianamente, longe das minhas raízes, as condições para minha subsistência.

Entre idas e vindas, percebi que não era o único a vivenciar essa realidade. Muitos da minha geração se viram obrigados a trilhar os mais distantes caminhos em busca de dias melhores, já que a cidade sempre esteve órfã de gestores comprometidos com as reais necessidades da nossa população, especialmente os mais jovens.

Não são poucos os filhos da nossa cidade que se ausentaram na busca por melhores condições de vida. Esportistas, artistas, estudantes, radialistas, músicos, homens e mulheres de um município que em um determinado momento da história acolheu gente de todos os cantos do país, pois era sinônimo de prosperidade e oportunidade à muitos cidadãos brasileiros, e que há décadas agoniza diante do descaso das grandes indústrias e dos péssimos governantes.

Seja pela falta de postos de trabalho, ausência de espaços adequados para criações e inovações, pela necessidade de ampliação dos estudos ou pelo alto custo da moradia, muitos, como eu, tiveram que buscar a vida fora. Em alguns momentos foi por pura necessidade e falta de oportunidades na nossa cidade. Já em outros, tive a grata satisfação de ser convocado para importantes tarefas, as quais como cidadão me senti honrado em assumir. São fatos como estes que testam a nossa responsabilidade e ampliam nossa experiência, além de saber que de alguma forma estamos ajudando os irmãos de outras localidades desse imenso Brasil.

Ao contrário do senso comum, algo sempre me deixou desconfortável, pois por mais importante o espaço que por ventura eu viesse a ocupar, o meu coração sempre se sentiu apertado. Afinal, aprendi no berço que ninguém é capaz de se satisfazer sozinho. Como filho único que sou, nestas caminhadas pelo mundo fui adotado por muitas famílias. Assim também adotei diversos irmãos e irmãs, que sempre me estenderam as mãos, cada um à sua maneira, para que numa relação harmônica e de equilíbrio pudéssemos enfrentar junto os desafios que a vida sempre nos colocou.

O tempo passou, a distância aumentou, muitas vidas se transformaram, mas o sentimento e os sonhos continuam intactos. Às vezes nos acostumamos a procurar as pessoas somente nos momentos em que necessitamos de ajuda. Particularmente acredito que devemos sempre que possível devolver o carinho para aqueles que admiramos e buscar retribuir de alguma forma aos que não tiveram a mesma oportunidade que tive. É para estas pessoas que escrevo agora.

É impossível descrever nominalmente cada um ou cada gesto, mas cada pessoa a sua maneira, inclusive os que não tenho relação tão próxima, se fazem importante nesta caminhada. Não existe dia certo para fazer isso, é sempre tempo de agradecer e deixar registrado, que essa distancia temporária tem somente o propósito de me levar de volta pra casa com mais experiência e aprendizados, que mesmo de longe procuro a todo tempo compartilhar com todos e todas, para que essa troca de conhecimento e informações fortaleça esse sentimento coletivo e nos dê força para continuar na busca da cidade que sonhamos.

Como diz um trecho de famoso samba enredo interpretado por Aroldo Melodia: "Como será o amanhã? Responda quem puder". Talvez ninguém tenha a resposta certa, mas com certeza todos possuem um sonho de um amanha melhor e mais digno.

Não tenho vergonha alguma em dizer que dentre tantos sonhos e desejos, o maior é a vontade de retribuir ao povo já tão explorado e sofrido de minha cidade com um pouco da minha, ainda jovem, mas ampla experiência de vida. Sei que isso não é um desejo individual, e talvez, quem sabe, esteja mais próximo de ser realizado do que imaginamos.

Neste momento triste, diante de tantas turbulências que mancham a história do nosso município, é tempo tirarmos nossos sonhos da gaveta, unir forças para reerguer nossa cidade e permitir que as futuras gerações tenham o direito de sonhar.


*Fabrício Lopes da Silva é Gestor Público

terça-feira, 10 de junho de 2014

ARTIGO - A FORÇA QUE PODE MUDAR O BRASIL

A força que pode mudar o Brasil
Por Fabrício Lopes* e Dalmo Viana**


Por muito tempo o Movimento Estudantil foi o único canal de diálogo e pressão da juventude brasileira para conquistar avanços nos direitos enquanto cidadãos e na defesa do país. A partir da Constituição de 1988 e o advento da inclusão dos conceitos da democracia participativa, além de maior perspectiva no compartilhamento das ações, decisões e transparência do estado, proporcionaram um ambiente onde diversos atores do movimento juvenil pudessem se apropriar de diversas ferramentas e espaços para protagonizar novas lutas. 
Com a abertura de novos espaços de discussão e a proposição de novas agendas, diversos movimentos passaram a se organizar e fortalecer. Isso possibilitou a abertura de diversas outras frentes de atuação que hoje inclusive apropriam-se dos meios tecnológicos para difundir suas idéias e conquistar adeptos.
Cada vez é mais visível a participação da juventude nos espaços de criação, desenvolvimento e operação das políticas, porém esse numero ainda é pequeno se entendermos qual o verdadeiro potencial dos nossos jovens e o tamanho de sua participação na sociedade.
Ainda possuímos diversas lutas a realizar, é preciso pensar o tema para além do conformismo de que “um dia já foi pior”. Não podemos deixar ressoar os pensamentos dos porta-vozes do conservadorismo que visualizam os jovens apenas como elementos estáticos e tutelados. 
Nos últimos anos, através especialmente das pressões realizadas pelos movimentos juvenis organizados, conquistamos diversos avanços institucionais, entre as quais destacamos a aprovação da Emenda Constitucional nº 65 (PEC da Juventude) que insere e reconhece a juventude como sujeito de direitos na Constituição, a realização de duas Conferências Nacional de Juventude, que apontaram demandas, anseios e desafios através da voz da própria juventude e o Estatuto da Juventude, diploma legal de direitos para os jovens entre 15 e 29 anos, o qual ainda carece de um Sistema Nacional de Juventude com regras claras de financiamento de politicas publicas que estejam em sintonia com as necessidades dos jovens.
Além disso, necessitamos fazer um debate sério em torno do Plano Nacional de Juventude, que possui um texto arcaico em tramitação na Câmara dos Deputados e nem de longe representa as necessidades atuais da nossa juventude.
Esses esforços se fazem necessários para que não coloquemos em risco o que já foi conquistado. Devemos lutar pela construção  instrumentos políticos fortalecidos, para não corrermos o risco de ver direitos deturpados ou engavetados por gestores públicos sem compromisso com a temática. 
A juventude brasileira já esperou demais. Neste momento da nossa história se faz necessária uma grande avaliação e a redefinição de rumos, inclusive no que tange ao papel dos nossos militantes políticos nestas lutas. ‘E preciso criar sintonia real com os movimentos populares, com as administrações de municípios e estados, mas sobretudo dialogar com a grande massa de jovens que não possuem condições e acessos aos espaços formais de organização. 
Ninguém é capaz de resolver tudo sozinho, por conta disso é necessário que esse debate venha a partir da unidade de forças, sempre considerando o potencial estratégico de todos os agentes que constroem cotidianamente a luta em torno do tema. Os processos precisam ser amplos e democráticos, devem estar atrelados às necessidades levantadas pelas vozes das ruas e não aos pensamentos mofados daqueles que só enxergam um pequeno mundo a sua volta. 
A juventude brasileira anseia por agentes políticos que ajudem verdadeiramente na organização e na defesa dos nossos direitos. É preciso romper como atraso em relação a implementação de políticas eficazes a que fomos obrigados a conviver nas últimas décadas. Já basta daqueles que somente se utilizam da juventude como peça publicitária em suas campanhas eleitorais. 
O tempo é de construir uma nova perspectiva junto a essa nova geração de brasileiros, tornando imprescindível a construção de uma agenda propositiva que entenda de fato o jovem como cidadão e dê condições de tratamento e inclusão diante das suas especificidades culturais, sociais, econômicas e territoriais. 
Além da desestruturação do Estado e o conservadorismo político, estamos  contra o tempo, pois os jovens da geração deste bônus demográfico veem escapar muitas possibilidades de constituir uma nova fase de desenvolvimento para o país. Já não bastasse o atraso que estamos relegados, isso pode causar uma prejudicialidade ainda maior no futuro caso não fomentemos ações dinâmicas e coerentes com a realidade que vivenciamos. 
É preciso ousar mais, deixar as ideias fluírem sem medo e investir muito na criatividade do nosso povo. O momento é agora, sem medo do dialogo. Jovens camponeses, indígenas, urbanos, quilombolas. Homens e mulheres, trabalhadores e desempregados, estudantes e analfabetos. Deve ser nosso compromisso estar ao lado dos que mais necessitam nessa hora. Os jovens brasileiros são a força que pode transformar nosso país um lugar melhor para se viver. Que a mudança comece por cada um de nós.


*Fabrício Lopes é Gestor Público e ativista das Políticas de Juventude
**Dalmo Viana é Sociólogo e militante do PSB/SP 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

POESIA - ESTAMOS EM TEMPO



Tempo, o maior inimigo
Tempo, o maior aliado
Tempo, espaçado 
Tempo, apertado
Sem tempo não há tempo
Com tempo é pouco tempo 
Tento ter mais tempo 
Perco tempo 
Haja tempo
Arrumo tempo 
Tempo 
Muito ou pouco tempo
Tempo, ainda estamos em tempo
Talvez por muito, talvez por pouco tempo

Fabrício Lopes