A força que pode mudar o Brasil
Por Fabrício Lopes* e Dalmo Viana**
Por muito tempo o Movimento Estudantil foi o único canal de
diálogo e pressão da juventude brasileira para conquistar avanços nos direitos
enquanto cidadãos e na defesa do país. A partir da Constituição de 1988 e o
advento da inclusão dos conceitos da democracia participativa, além de maior
perspectiva no compartilhamento das ações, decisões e transparência do estado,
proporcionaram um ambiente onde diversos atores do movimento juvenil pudessem
se apropriar de diversas ferramentas e espaços para protagonizar novas lutas.
Com a abertura de novos espaços de discussão e a proposição
de novas agendas, diversos movimentos passaram a se organizar e fortalecer.
Isso possibilitou a abertura de diversas outras frentes de atuação que hoje
inclusive apropriam-se dos meios tecnológicos para difundir suas idéias e
conquistar adeptos.
Cada vez é mais visível a participação da juventude nos
espaços de criação, desenvolvimento e operação das políticas, porém esse numero
ainda é pequeno se entendermos qual o verdadeiro potencial dos nossos jovens e
o tamanho de sua participação na sociedade.
Ainda possuímos diversas lutas a realizar, é preciso pensar
o tema para além do conformismo de que “um dia já foi pior”. Não podemos deixar
ressoar os pensamentos dos porta-vozes do conservadorismo que visualizam os
jovens apenas como elementos estáticos e tutelados.
Nos últimos anos, através especialmente das pressões
realizadas pelos movimentos juvenis organizados, conquistamos diversos avanços
institucionais, entre as quais destacamos a aprovação da Emenda Constitucional
nº 65 (PEC da Juventude) que insere e reconhece a juventude como sujeito de
direitos na Constituição, a realização de duas Conferências Nacional de
Juventude, que apontaram demandas, anseios e desafios através da voz da própria
juventude e o Estatuto da Juventude, diploma legal de direitos para os jovens
entre 15 e 29 anos, o qual ainda carece de um Sistema Nacional de Juventude com
regras claras de financiamento de politicas publicas que estejam em sintonia
com as necessidades dos jovens.
Além disso, necessitamos fazer um debate sério em torno do
Plano Nacional de Juventude, que possui um texto arcaico em tramitação na
Câmara dos Deputados e nem de longe representa as necessidades atuais da nossa
juventude.
Esses esforços se fazem necessários para que não coloquemos
em risco o que já foi conquistado. Devemos lutar pela construção instrumentos políticos fortalecidos, para não
corrermos o risco de ver direitos deturpados ou engavetados por gestores
públicos sem compromisso com a temática.
A juventude brasileira já esperou demais. Neste momento da
nossa história se faz necessária uma grande avaliação e a redefinição de rumos,
inclusive no que tange ao papel dos nossos militantes políticos nestas lutas.
‘E preciso criar sintonia real com os movimentos populares, com as
administrações de municípios e estados, mas sobretudo dialogar com a grande
massa de jovens que não possuem condições e acessos aos espaços formais de
organização.
Ninguém é capaz de resolver tudo sozinho, por conta disso é
necessário que esse debate venha a partir da unidade de forças, sempre
considerando o potencial estratégico de todos os agentes que constroem
cotidianamente a luta em torno do tema. Os processos precisam ser amplos e
democráticos, devem estar atrelados às necessidades levantadas pelas vozes das
ruas e não aos pensamentos mofados daqueles que só enxergam um pequeno mundo a
sua volta.
A juventude brasileira anseia por agentes políticos que
ajudem verdadeiramente na organização e na defesa dos nossos direitos. É
preciso romper como atraso em relação a implementação de políticas eficazes a
que fomos obrigados a conviver nas últimas décadas. Já basta daqueles que
somente se utilizam da juventude como peça publicitária em suas campanhas
eleitorais.
O tempo é de construir uma nova perspectiva junto a essa
nova geração de brasileiros, tornando imprescindível a construção de uma agenda
propositiva que entenda de fato o jovem como cidadão e dê condições de
tratamento e inclusão diante das suas especificidades culturais, sociais,
econômicas e territoriais.
Além da desestruturação do Estado e o conservadorismo
político, estamos contra o tempo, pois
os jovens da geração deste bônus demográfico veem escapar muitas possibilidades
de constituir uma nova fase de desenvolvimento para o país. Já não bastasse o
atraso que estamos relegados, isso pode causar uma prejudicialidade ainda maior
no futuro caso não fomentemos ações dinâmicas e coerentes com a realidade que
vivenciamos.
É preciso ousar mais, deixar as ideias fluírem sem medo e
investir muito na criatividade do nosso povo. O momento é agora, sem medo do
dialogo. Jovens camponeses, indígenas, urbanos, quilombolas. Homens e mulheres,
trabalhadores e desempregados, estudantes e analfabetos. Deve ser nosso compromisso
estar ao lado dos que mais necessitam nessa hora. Os jovens brasileiros são a
força que pode transformar nosso país um lugar melhor para se viver. Que a
mudança comece por cada um de nós.
*Fabrício Lopes é Gestor Público e ativista das Políticas de Juventude
**Dalmo Viana é Sociólogo e militante do PSB/SP
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