quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

POESIA - UMA LAUDA POR DIA


Uma lauda por dia
Ele escrevia
Distribuía
Ninguém lia

Uma lauda por dia 
Ele digitava
Compartilhava
Ninguém olhava

Uma lauda por dia 
Ele rasgou
Desejou
Ninguém ligou

Uma lauda por dia
Ele inspirou
Publicou
Ninguém comprou

Uma lauda por dia
Ele juntava
Guardava
Ninguém imaginava

Uma lauda por dia
Ele organizou
Editou
Ninguém adotou 

Uma lauda por dia
Ele rabiscou
Desenhou
Ninguém apreciou

Uma lauda por dia 
Ele recebeu
Leu
No final devolveu.



Fabrício Lopes

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

HISTÓRIA, CORAGEM E DISPOSIÇÃO

História, coragem e disposição

Nesta semana, os jornalistas Rodrigo Hidalgo, Tony Chastinet, Camila Moraes, Alziro Oliveira, Eduardo Reis e Walter Colling da Rede Bandeirantes, receberam o Prêmio Esso na categoria "Melhor Contribuição ao Telejornalismo".
Com a reportagem "Vila Socó - A verdade apagada", realizaram em poucos minutos uma síntese de um período em que a dor e o sofrimento daquelas famílias, que já eram invisíveis aos olhos das autoridades mesmo antes do incêndio. 
Aponta ainda como foi o descaso com centenas de vítimas que desapareceram nos dias subsequentes, principalmente das creches e escolas que possuem ainda hoje o registro daqueles que nunca mais retornaram. 
É importante frisar que Cubatão naquele período possuía uma população flutuante muito grande, a qual era obrigada a recorrer às palafitas dos mais diversos bairros da cidade afim de conseguir ter condições de moradia. 
O fato é que, passados 30 anos do ocorrido, muitas coisas parecem permanecer intactas. As marcas daquele período em que o município era Área de Segurança Nacional e não tinha o direito de eleger seus prefeitos ainda hoje geram reflexos em nosso cotidiano. Prova perceptível disso é a falta de interesse do Poder Público tem em modificar a relação estrutural entre a cidade e seus cidadãos. 
Existem vários pontos em que a cidade se apresenta cristalizada e sem grandes alterações que beneficiem efetivamente a população. Parece resignada a viver as marcas de um tempo sombrio que dilacerou vidas e sonhos, sem ter instrumentos para reagir.
No que tange a esfera pública, são poucos que esboçam disposição em romper com essa lógica. E a grande maioria são abnegados servidores que a partir de suas convicções pessoais decidem alterar os caminhos, pois a depender dos governantes, estamos órfãos de um direcionamento político qualificado que estimule o protagonismo.
Torço muito para que a OAB Cubatão tenha sucesso nessa empreitada, na medida do possível tenho acompanhado as movimentações em busca de respostas para esse caso especificamente. Acredito que essa pode ser a primeira chave para abrir novos horizontes e romper esse estigma de que "nada muda". 
Tenho a certeza de que essa ação, tantos dos jornalistas, quanto dos cidadãos, pode ser o instrumento propulsor para debater outras mazelas deixadas por esse período sombrio. Que façamos da nossa cidade um verdadeiro exemplo de recuperação da autoestima, do desenvolvimento e dos sonhos.

*Fabrício Lopes é Gestor Público


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