sábado, 17 de fevereiro de 2018

A CONEXÃO



No século da evolução 
A distração 
É o maior inimigo 
Um mundo passa ao largo 
O tempo desperdiçado 
Sem volta 
Sem conteúdo 
Onde se tem acesso a tudo 
Mas não se aprende nada 

Cérebro sem uso 
Vida das maquinas 
Inteligência artificial 
Caminhos da dependência 
No mapa que te guia 
Se ficar sem bateria 
É como pausar o mundo 
Não lembra sequer os números 
Nem o caminho de casa 
Diante da abstinência 
Passa viver de carências 
Só pensa em pedir socorro 
Fica desesperado 
Está desconectado 
Se vê obrigado a pensar 

Reflete sobre a vida 
Determina que a melhor saída 
Será um aparelho decente 
Com bateria potente 
Que custa um bom dinheiro 
Mas pode ser parcelado 
Para ser monitorado 
E também ficar na moda 
Poder contar aos amigos 
Sobre novos aplicativos 
Que apontam novos caminhos 

A vida então se renova 
Agora com muita energia 
Garante passar o dia 
Fuçando a vida alheia 
Daquele que também se expõe 
Debatendo chifre de unicórnio 
Ou rabo de sereia 

Enquanto isso, o tempo passa 
Pouca coisa acontece 
Escreve uma grande reclamação 
Mesmo sem ter certeza ou razão 
E fica na ansiedade 
Se os amigos não aparecem 
Quem sabe fosse melhor 
Publicar uma corrente de preces 

Sem muitas interações  
Algumas visualizações 
Surge até carinhas de emoções 
Nada muito legal 
Parece que há pouca verdade 
Mas fascínio pela velocidade 
Não dá margem 
É preciso buscar a nova postagem 
De histórias descartáveis 
Abraços não palpáveis 
Muitos clichês, bolha de civilização 

Tudo banalizado, repetido, esgotado 
Sentimentos verdadeiros 
Relegados ao passado 
Que nem é tão distante 
Esquecido na foto impressa 
No canto de uma estante 
Retrata muita gente nova 
Que possui tempo de sobra 
Mas não tem uma vida vibrante 
Consome remédios impactantes 
Na busca de felicidade 

Sem conseguir erguer a cabeça 
Enxergar a realidade 
Viver novos desafios 
Sorrir e chorar além de símbolos 
Demonstrar afeto, usar o coração 
Deixar de lado essa vida previsível 
Com amigos perecíveis 
Feita pra satisfazer o alheio 

É possível mudar o caminho 
Deixa de se sentir sozinho 
Saber usar a conexão 
Não esquecer que carinho 
Respeito e felicidade 
Não se faz no algoritmo 
Está no aperto de mão 
Dentro de um abraço apertado 
Junto de quem se gosta 

Seja falante ou calado 
Cheio de grana ou quebrado 
O mais importante 
É manter a chama acesa 
Se reunir à mesa 
Trocar ideias 
Muitos papos descolados 
Sem grandes expectativas 
Admirar a vida 
Agradecer o momento 
Relembrar histórias 
Jogar conversa fora 
Sem ser fotografado 
Guardar na memória 
Deixar que o tempo 
Seja o guardião 
Da amizade e do amor


Fabrício Lopes

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