No século da evolução
A distração
É o maior inimigo
Um mundo passa ao largo
O tempo desperdiçado
Sem volta
Sem conteúdo
Onde se tem acesso a tudo
Mas não se aprende nada
Cérebro sem uso
Vida das maquinas
Inteligência artificial
Caminhos da dependência
No mapa que te guia
Se ficar sem bateria
É como pausar o mundo
Não lembra sequer os números
Nem o caminho de casa
Diante da abstinência
Passa viver de carências
Só pensa em pedir socorro
Fica desesperado
Está desconectado
Se vê obrigado a pensar
Reflete sobre a vida
Determina que a melhor saída
Será um aparelho decente
Com bateria potente
Que custa um bom dinheiro
Mas pode ser parcelado
Para ser monitorado
E também ficar na moda
Poder contar aos amigos
Sobre novos aplicativos
Que apontam novos caminhos
A vida então se renova
Agora com muita energia
Garante passar o dia
Fuçando a vida alheia
Daquele que também se expõe
Debatendo chifre de unicórnio
Ou rabo de sereia
Enquanto isso, o tempo passa
Pouca coisa acontece
Escreve uma grande reclamação
Mesmo sem ter certeza ou razão
E fica na ansiedade
Se os amigos não aparecem
Quem sabe fosse melhor
Publicar uma corrente de preces
Sem muitas interações
Algumas visualizações
Surge até carinhas de emoções
Nada muito legal
Parece que há pouca verdade
Mas fascínio pela velocidade
Não dá margem
É preciso buscar a nova postagem
De histórias descartáveis
Abraços não palpáveis
Muitos clichês, bolha de civilização
Tudo banalizado, repetido, esgotado
Sentimentos verdadeiros
Relegados ao passado
Que nem é tão distante
Esquecido na foto impressa
No canto de uma estante
Retrata muita gente nova
Que possui tempo de sobra
Mas não tem uma vida vibrante
Consome remédios impactantes
Na busca de felicidade
Sem conseguir erguer a cabeça
Enxergar a realidade
Viver novos desafios
Sorrir e chorar além de símbolos
Demonstrar afeto, usar o coração
Deixar de lado essa vida previsível
Com amigos perecíveis
Feita pra satisfazer o alheio
É possível mudar o caminho
Deixa de se sentir sozinho
Saber usar a conexão
Não esquecer que carinho
Respeito e felicidade
Não se faz no algoritmo
Está no aperto de mão
Dentro de um abraço apertado
Junto de quem se gosta
Seja falante ou calado
Cheio de grana ou quebrado
O mais importante
É manter a chama acesa
Se reunir à mesa
Trocar ideias
Muitos papos descolados
Sem grandes expectativas
Admirar a vida
Agradecer o momento
Relembrar histórias
Jogar conversa fora
Sem ser fotografado
Guardar na memória
Deixar que o tempo
Seja o guardião
Da amizade e do amor
Fabrício Lopes
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